O papel da Companhia de Jesus na propagação da crença sebástica em Portugal e no Brasil - Université Bordeaux Montaigne Accéder directement au contenu
Chapitre D'ouvrage Année : 2014

O papel da Companhia de Jesus na propagação da crença sebástica em Portugal e no Brasil

Ana Maria Binet
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  • PersonId : 1064628

Résumé

Introdução : A crença sebástica. A presença, no território português, de uma comunidade judaica importante, não deve ser esquecida se quisermos compreender certos elementos fundamentais da cultura portuguesa. O desenvolvimento, no país, de um messianismo excepcionalmente forte é um dos elementos susceptíveis de serem ligados a uma influência judaica mais ou menos oculta. O século XVI europeu vai, aliás, assistir a uma recrudescência dos movimentos messiânicos, que podemos, em parte, explicar pelo sentimento de desilusão e de insegurança religiosas nascidas do movimento da Reforma. Na Península ibérica, esses movimentos foram especialmente numerosos, aparecendo diferentes "Messias" que provocavam grande agitação nas populações locais, especialmente as que eram de origem cristã-nova. A esperança na chegada de um Rei Encoberto acentuava-se, pois, mesmo entre os cristãos velhos, encorajada em parte pelos frades franciscanos, capuchos e jerónimos, influenciados pelas doutrinas milenaristas de Joaquim de Flora apontando para uma Idade do Espírito Santo, sob a direcção de um Imperador do Mundo e de um Papa Angélico. 1 Em Portugal, o principal arauto da chegada próxima de um Rei-Messias foi, como se sabe, Gonçalo Anes Bandarra (1500-1566), o famoso sapateiro de Trancoso, região em que os cristãos-novos eram numerosos. Nas suas Trovas, 2 Bandarra serve-se dos textos bíblicos, que conhece perfeitamente, para interpretar a História de Portugal, passada e futura. Acima de tudo, anuncia a vinda de um Rei Encoberto que vai restaurar a antiga glória do país, pois nos finais do século XV e princípios do século seguinte, época em que ele viveu, este iniciava já um inevitável declínio. Alcácer-Quibir, a 4 de Agosto de 1578, vai ser a resposta cruel da História a esses sonhos de glória : à derrota face às forças muçulmanas das tropas do jovem rei D. Sebastião (8.000 mortos, 15.000 prisioneiros a resgatar), seguir-se-à a perda da independência do país. O traumatismo é tal que, durante pelo menos duas décadas, a batalha só será relatada por 1 V. Sobre esta matéria Henri de Lubac, La postérité spirituelle de Joachim de Flore, Paris, Ed. Lethielleux/ Namur, "Culture et Vérité", 1979. 2 As Trovas foram inspiradas pelas Coplas de Pedro Frias, monge castilhano do fim do século XV que se tinha baseado nas profecias de Santo Isidoro, bispo de Sevilha no século VII. As Coplas anunciavam a vinda de um Encubierto montado num cavalo de madeira. Vivendo numa região de Portugal onde contactava certamente com cristãos-novos, Bandarra insere-se numa corrente messiânica e milenarista que reflecte influências judaicas, mas também cristãs.

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Citer

Ana Maria Binet. O papel da Companhia de Jesus na propagação da crença sebástica em Portugal e no Brasil. Para a história das ordens e congregações religiosas em Portugal, na Europa e no mundo, Paulinas Editoras, 2014, 978-989-673334-6. ⟨hal-02989738⟩
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